quarta-feira, 29 de setembro de 2010

CAMBORIÚ - ORIGEM E SIGNIFICADO:

O município de Camboriú foi criado pela Lei Provincial de nº 1.076 de 05 de abril de 1.884, com território desmembrado de Itajaí. Sua instalação ocorreu em 15 de janeiro de 1.885, com sede no lugar denominado Barra. Em 1.890, foi transferida para a localidade Garcia. Pertence à Microrregião da Foz do Rio Itajaí.

Sobre a origem e significado do topônimo são muitas as versões divulgadas. As mais antigas são a de Saint-Hilaire (1.855): rio das camboas e a do Arcipreste Paiva (1.860): rio de seios ou camboas (2.003, p. 84). Boiteux (1.915, p. 111) confirma a mesma versão dada pelo sábio Saint-Hilaire. Tendo por base o dicionário de Laudelino Freire onde camboa é o mesmo que gamboa, foi divulgada a seguinte descrição a respeito do rio Camboriú: lugar em que remansa a água dos rios, dando aparência de lago tranqüilo(FREIRE, 1.930, p. 2.679). Daí nasce a versão popular mais conhecida: “onde o rio camba”. Segundo o IBGE (1.959, p. 57), Lucas Boiteux, baseado em Theodoro Sampaio, anota a proveniência de “camby”, leite, “ri”, correndo e “y”, água do rio, donde vem a expressão: rio onde corre o leite. Theodoro Sampaio, na primeira edição de seu livro, levanta a possibilidade de Camboriú significar rio dos robalos. Segundo Reitz (1.976, p. 149), baseado na definição anterior e dando ao étimo “u” o significado de comer, deduz que Camboriú significa criadouro de robalos e não rio dos robalos como era divulgado. Por sua vez, Patrianova (1.989, p. 273) insiste em afirmar que Camboriú antigamente chamava-se Cambariguaçú: “camba”, mama, seio, “ari”, em cima, “iguaçu”, grande, significando seio grande em cima do morro. Finalmente (2.005) publicamos um estudo sobre a etimologia do termo e chegamos à conclusão que Camboriú literalmente significa: rio das pequenas cercas de varas.

A maioria das suposições levantadas são cópias de definições antigas. A monografia do Departamento Estadual de Estatística, ao afirmar que “o rio tem pouca correnteza, deslizando em terras férteis(1.940, DEE, apud IBGE, 1.959, p. 57), corrobora com as afirmações relativas às camboas, na sua acepção latina. Daí erroneamente vem a versão popular mais divulgada “onde o rio camba”. A posição do botânico Raulino Reitz, baseada na definição rio dos robalos de Theodoro Sampaio na primeira edição de O Tupi na Geographia Nacional (1.901, p. 118), não aparece na 4ª edição da obra (1.955, p. 188). Ademais, em nenhum dicionário encontramos “camburu” como definição de robalo. Das oito citações encontradas na literatura histórico-brasileira, desde 1.587 a 1.935, apenas três grafias diferentes aparecem: “camurim, camuru e camorim”. A suposta grafia “camburu”, fundamental na morfogênese do termo, nas hipóteses levantadas por Reitz e por Theodoro Sampaio, não aparece. Também o dicionário Houaiss (2.001, p. 2.464) registra como sinônimo de robalo apenas as três grafias citadas. Ademais, José de Anchieta, ao explicar a pronúncia da letra i, traz como exemplo camuri, robalo, ig, rio. O composto fica camuriiig, rio de robalos (1.946, p. 06).

Camboriú é formado por quatro raizes assim decompostas: caa (mato, erva, galhos, varas) + amba (cercar, fechar, trancar, encurralar) + ri (posposição com) + u (rio). Rio com cercas de varas é a tradução literal. É uma alusão à armadilha de pesca, empregada pelos índios e também pelos colonizadores. O rio Camboriú, correndo numa extensa planície e com pequenas ilhotas no seu leito, era o local ideal para esse tipo de pesca. O fluxo e o refluxo das marés, diariamente, garantiam a sobrevivência dos pescadores.

As duas primeiras idéias do topônimo Camboriú “caa”, vara, ramagens, “amba”, cercas, formam a palavra portuguesa camboa, de origem indígena, “que é como os índios chamavam o cercado, feito de galhos e ramagens para apanhar peixe” (SAMPAIO, 1955, p. 204). Este termo, na acepção indígena, com o tempo passou a significar qualquer tapagem natural, que fizesse parte integrante das camboas, como veremos a seguir, nos abonamentos. Feita esta elucidação, a definição histórico-filológica de Camboriú é rio com camboas.

São muitos os argumentos em favor da hipótese que defendemos. Os mais convincentes os encontramos nas obras histórico-literárias e nos verbetes de dicionários clássicos. Mas, os nomes de Camboa Grande e Camboa Pequena, dados no passado às duas ilhotas do rio Camboriú, são marcos históricos que testemunham a existência e a localização dessas armadilhas de pesca.

Os étimos que formam a palavra camboa são “caa”, ramos, galhos, ramagens e “amba”, cercas. Os dicionários clássicos guaranis são enfáticos sobre o significado dos mesmos, através de frases. No verbete ramo, encontramos a frase que mais se aproxima da morfogênese e significado de Camboriú: “Ramos para cercar arroio = ca’ambayá” (PERALTA, 1.951, p. 380, tradução nossa). Para a mesma frase, Montoya é mais explícito na tradução: “Caa mbayâ, ramalhada que colocam para trancar os arroios para apanhar peixes” (1.876, p. 83 v., tradução nossa). Finalmente para coroar a análise etimológica da palavra camboa, no verbete pescar, a raiz “ambo” significa trancar, cercar, impedir de sair: “piramboá, pescar com rede” (PERALTA, 1.951, p. 336, tradução nossa). Paulo Restivo, também no verbete cercar, é muito claro: “ambocorá, fazendo curral” (1.722, p. 206).

G. S. Souza, Notícias do Brasil, é o primeiro literato a confirmar o termo camboa como sinônimo de tapagem. Na captura do peixe cunapu, afirma que “no tempo das águas vivas se tomam em uma tapagem de pedra e de paus a que os índios chamam camboas, onde morrem muitos [...]” (1.587, SOUZA apud CUNHA, 1.978, p. 90, grifo nosso).

O segundo relato histórico-literário a confirmar o termo camboa também como sinônimo de tapagem é o de Ambrósio Fernandes Brandão, na obra Diálogo das Grandezas do Brasil. Ao descrever uma pescaria assim se manifesta, na ortografia da época: “[...] em hua tapajem que estaua feita em certo rio pêra pescarem nella a que nesta terra chamão camboa se chegarão dous peixes de semelhante espécie dos coais entrou hu pêra adentro, ficando o companheiro de fora [...] (1.618, BRANDÃO, apud CUNHA, 1978, p. 90, grifo nosso).

José Veríssimo, A Pesca na Amazônia, quando fala das técnicas de pesca, é muito elucidadtivo e abrangente. Afirma que os índios construíam as camboas em locais onde as cercas naturais os favoreciam. O texto traz uma contribuição muito grande para a recuperação histórica da origem e significado do nome Camboriú. O nome dado a essas ilhotas comprova que eram os locais e também partes integrantes das camboas:

Estes currais alongam-se, às vezes por cem e cento e cincoenta metros, e multiplicam-se por aquelas costas. Além destas cercas móveis, constroem camboas fixas, com varas e talas fortes ou em sítio que uma disposição especial da costa os favorece com alguma cerca natural [...]. Das armadilhas as mais notáveis, por mais produtoras são o cacuri, os cercados, as camboas [...]. (VERÌSSIMO, 1895, apud CUNHA, 1978, p. 90, grifos nossos).

Baseados neste último abonamento de José Veríssimo, os índios aproveitaram as pequenas ilhas como cercas naturais e aí construíram as camboas, que deram origem ao nome do município. Por isso, o Dicionário Topográfico, Histórico e Estatístico da Província de Santa Catarina, concluído em 1.868, registra essas duas ilhazinhas, que, no nosso entender, além de partes integrantes das camboas, eram os locais apropriados para a captura do peixe:

Camboa grande – ilhota formada pelo rio Camboriú três quartos de légua acima de sua barra. Camboa pequena – ilhota de menor extensão que a precedente sobre o dito Camboriú, pouco acima da embocadura do rio Pequeno. (PAIVA, 2.003, p. 83).

A pesca sempre foi atividade principal dos primeiros moradores da região. As cercas com ramagens eram de fácil montagem, nos refluxos das marés. O registro dos nomes dessas duas ilhazinhas, historicamente relacionadas com a atividade pesqueira da região, é um argumento muito forte em favor da origem e significado do topônimo Camboriú, que ora propomos. O nome delas deve ser preservado e constar dos livros de cultura regional, porque fazem parte da geistória da região e também tornam mais inteligível o nome de dois municípios.

Então, Camboriú é termo indígena e significa rio com camboas, em alusão às tapagens que se faziam para capturar peixes nas vazantes das marés.

Texto de: Lino João Dell´Antonio.
Obra: Nomes Indígenas dos Municípios Catarinenses, Significado e Origem





Ao fundo, o Morro da Pedra Branca ou Morro do "Seio Grande".
Acervo: Kika (2007-2008)

sábado, 25 de setembro de 2010

APRESENTAÇÃO:


Este é um BLOG cultural. Nossa proposta é simples: resgatar a história de Balneário Camboriú, através de registros e memórias do cotidiano. No princípio, tudo era "Vila e Praia de Camboriú". Hoje, dois municípios fazem parte dessa História; que começou bem antes de qualquer registro, "lá  onde camba o rio": "Camboriú Velho", como era chamado o atual Município de Camboriú, logo após a emancipação política da "praia" que virou cidade; e Balneário Camboriú, que hoje desponta no cenário nacional e internacional como Capital Catarinense do Turismo. 

Este é um convite para revisitar o passado. Se você tem fotos antigas, registros, ou simplesmente histórias para contar, seu lugar é aqui. Participe. Entre em contato e seja bem vindo a essa viagem na História e no Tempo.

Contatos: kika.bc@terra.com.br

ONDE CAMBA O RIO. 
Composição: Carlos Niehues

Venta na Ilha das Cabras o meu sopro nu
Na sombra da samambaia há lugar pro inhambu
Dobram na ponta da barra os barcos que vem
Trazer de longe o tesouro pra mesa de alguém.
De corte da natureza é a princesa do sul
Pequena Copacabana de sorriso azul
Branca desmancha a espuma querendo brincar
Lambe o castelo de areia na beira do mar.
Pra lá de onde camba o rio
Pra cá de onde avisto o navio
Vem molhar as terras deste brasil
Turquesa de Iemanjá.
Mesmo nas noites de inverno
no frio da estação
Queimam as fogueiras de julho
Lembrando o verão
Meu coração de turista encontra um lugar
Revela nova conquista pra quem vem sonhar.
Riscam nas ondas sagradas as pranchas ao sol
Gente de pele dourada um intenso farol
Inventa um porto seguro pra quem ficou sem
Pinho, Taquaras, Amores, Laranjeiras zen.